Procura-se a paz no mundo da música. O respeito pelo gosto musical alheio está em falta e não é de hoje que os fãs de determinados artistas vivem em atrito por conta disso. Com o passar do tempo está cada vez mais difícil de encontrar pessoas que consigam trocar ideias sobre suas preferências, de forma que a conversa e as críticas não sejam levadas para o lado pessoal.
O papel da música deveria ser unir os demais com um propósito em comum, como a paz, mas tem sido substituído pelo desamor. Muitos indivíduos vêm se demonstrando intolerantes ao se deparar com posicionamentos negativos sobre seus músicos prediletos e estes são responsáveis também pela perda da essência dos fã-clubes, principalmente de artistas e cantoras internacionais. |
Um novo conceito ligado às fanbases fez com que muitos fãs seguissem por um caminho tortuoso. Devido à grande quantidade de pessoas atreladas às comunidades, o que era um simples fã-clube acabou se tornando um exército disposto a seguir os passos de seu ídolo e defendê-lo com unhas e dentes. A situação saiu do controle quando a mídia verificou que os atritos entre cantores dão audiência e piorou quando alguns integrantes desses clubes passaram a humilhar quem gosta de artistas rivais ou não admiram seus prediletos.
Essas pessoas acabam gerando desentendimentos, preconceitos, disseminam o ódio às outras comunidades e causam a segmentação do mundo da música. Mas dentre tanta gente mal intencionada, eis que surgem aqueles que desaprovam as atitudes dos causadores de problemas e, de alguma forma, prezam pela paz e a coexistência no mundo da música. |
“Eu amo música e isso é bem maior do que ódio gratuito”.
GUILHERME VIEIRA, 22, de Alto Longá, Piauí. |
O eclético Guilherme Vieira, de 23 anos, já presenciou brigas entre fãs que se desenrolaram com críticas negativas e ofensas, e também afirma que não tolera o comportamento dessas pessoas. “Eu fico muito irritado com certas ofensas ao trabalho das cantoras, mas eu nunca me meti em confusões ou discussões online ou pessoalmente”. Apaixonado por pop internacional, ele possui, praticamente, a discografia completa de divas como Britney Spears, Madonna, Lady Gaga, Katy Perry e outras. Mas isso não o impede de ouvir outros gêneros, principalmente os nacionais. Ele também curte MPB, pop rock, funk, sertanejo universitário, forró e está sempre aberto a novos sons. “Eu amo música e isso é bem maior do que ódio gratuito”.
|
Colecionador de álbuns (físicos e digitais) e fotógrafo, Lukas Nunes, de 21 anos, se destaca pela quantidade de artistas e gêneros diferentes em sua coleção. “Na minha biblioteca musical você pode achar de Björk até trilha sonora de filmes da Disney. Tem rock, pop, eletrônico, experimental, witchouse, trap, hip hop, rap, funk, dance, folk, eletropop, etc. Tem de tudo um pouco”. Ele acredita que essas “guerrinhas” se desenrolam na internet por conta de charts (colocação das vendas de álbuns e singles em veículos de referência como a revista Billboard) e premiações como o Grammy, VMA, AMA e outras. Em determinado momento de sua vida, Lukas se viu forçado a participar de intrigas e discussões porque se sentiu coagido pelos seus colegas, que duvidaram de sua paixão por uma cantora em especial. “Se eu entrasse no meio, era porque eu era fã de verdade. Caso contrário, eu seria considerado um poser e diriam que não amava a tal cantora como os outros”, assume. |
A situação entre os internautas é a mais alarmante. O apaixonado por teen pop, Thiago Santos, 21, tenta apaziguar as brigas que acontecem em vários grupos dos quais participa. Ele se importa em mostrar que ambos os artistas são talentosos, que possuem trabalhos diferentes e que não precisam de discussões para saber quem é o melhor. “Meu pensamento é o seguinte: Se eu sou fã da Demi Lovato, não vou sair por ai criticando a Selena Gomez. Porque sei que na balada eu vou descer até o chão quando tocar as músicas das duas”, ressalta de forma descontraída. |
Intrigas que balançam as estruturas do mundo pop
e a solução para a coexistência pacífica
A história da música pop é marcada por confusões entre os fãs e seus artistas artistas. Uma das guerras recorrentes é entre as fanbases dos Madge fans, seguidores da Madonna, e os Little Monsters, fãs de Lady Gaga carinhosamente apelidados pela própria. Tudo começou quando a rainha do pop fez diversas críticas negativas sobre Gaga. Após isso, ela fez menções a ela de forma pejorativa, a chamou de redutiva, acusou de plágio a música “Born This Way” que, segundo Madonna, se parecia com sua canção "Express Yourself" e ainda durante os shows da turnê "MDNA Tour" ironicamente cantou sua música com a de Gaga e finalizou com o trecho da faixa "She's Not Me", do álbum "Hard Candy": "She's not me and she never will be" (Ela não sou eu e nunca será).
Ainda assim, Gaga se pronunciou e frisou por diversas vezes sua reprovação contra as intrigas e fofocas sobre ela com Madonna e outras cantoras. Em 2013, quando estava prestes a lançar o álbum “ARTPOP”, a apelidada como Mother Monster por seus fãs fez uma postagem em sua rede social, o site littlemonsters.com, dizendo que ela queria causar uma mudança no Pop e que a música não seria mais marcada por insultos e tabloides. “Eu apoio a música pop e mais artistas divulgando mais novas músicas apenas significa mais para os amantes de música curtir. A música pop é divertida e essas ‘guerras’ não condizem com o que eu apoio. Eu quero que as pessoas foquem em meu novo trabalho, não em fofocas”, declarou a cantora. E ao longo das primeiras semanas de lançamento do álbum, um slogan criado por ela sugeria uma reflexão de paz para seus fãs e foco na música: “PARE O DRAMA. COMECE A MÚSICA”.
Ainda assim, Gaga se pronunciou e frisou por diversas vezes sua reprovação contra as intrigas e fofocas sobre ela com Madonna e outras cantoras. Em 2013, quando estava prestes a lançar o álbum “ARTPOP”, a apelidada como Mother Monster por seus fãs fez uma postagem em sua rede social, o site littlemonsters.com, dizendo que ela queria causar uma mudança no Pop e que a música não seria mais marcada por insultos e tabloides. “Eu apoio a música pop e mais artistas divulgando mais novas músicas apenas significa mais para os amantes de música curtir. A música pop é divertida e essas ‘guerras’ não condizem com o que eu apoio. Eu quero que as pessoas foquem em meu novo trabalho, não em fofocas”, declarou a cantora. E ao longo das primeiras semanas de lançamento do álbum, um slogan criado por ela sugeria uma reflexão de paz para seus fãs e foco na música: “PARE O DRAMA. COMECE A MÚSICA”.
Casos como esse fizeram com que a internet se tornasse um lugar insuportável para os amantes de música pop. As trocas de ofensas diárias entre os fãs, as diversas páginas no Facebook que realizaram postagens para alimentar a rixa e portais de música se aproveitando da situação para atrair leitores foram os fatores responsáveis pela repercussão de guerra entre as duas fanbases por anos. Até não conseguirem mais repercutir o assunto, quando as cantoras foram vistas juntas de Katy Perry em um evento de moda em Nova Iorque neste ano. |
São poucos que conseguem deixar de lado essa rivalidade. De acordo com o apresentador, jornalista de música e diretor do programa “Minha Loja de Discos” do Canal BIS, Rodrigo Pinto, esse comportamento tem sido amplificado por conta das redes sociais. “Fãs brigaram em nome das qualidades de seus prediletos, no caso de Beatles e Rolling Stones, Oasis e Blur. Algumas vezes ecoando intrigas entre músicos, outras vezes somente insistindo no bate e volta das supostas qualidades de seus ídolos em detrimento do outro lado. Mas isso só serve ao próprio mundo do fã e, eventualmente, de maneira torta, ao aparato promocional do artista”, diz.
De acordo com o jornalista, tudo isso não está relacionado à música em si, mas com o espetáculo midiático, que, em geral, precisa de lenha na fogueira pra rodar jornais, atualizar sites, levar ao ar mais um programa na velocidade máxima da modernidade. “No fundo, tudo que é periférico parece causar apenas uma espécie de ruído residual, um white noise que serve às máquinas promocionais. Acho que se tem briga demais de fã, é porque tem música de menos”, afirma Rodrigo.
|
"Se tem briga demais de fã, é porque tem música de menos”.
RODRIGO PINTO Jornalista de música, apresentador e diretor do programa "Minha Loja de Discos" do canal BIS. |
Não há forninho que segure as confusões do mundo pop. As cantoras Katy Perry e Taylor Swift tiveram um desentendimento no ano de 2014 e até então estão em ritmo de guerra. Taylor acusou Katy de tentar sabotar a turnê do seu álbum “Red”, de 2012, por conta da saída repentina de três dançarinos do seu elenco para serem contratados na “Prismatic Tour”, turnê atual de Katy. Além disso, as duas já namoraram o conquistador John Mayer e algo pode ter acontecido em suas conversas ao longo do tempo.
O conflito entre as duas tomou o Twitter e ainda fez com que seus fãs e diversos artistas se manifestassem em defesa de cada uma delas, a ponto de causar uma guerra virtual e preencher todos os tabloides e revistas de música mundo afora. E quando todos menos esperavam, é lançado o clipe de “Bad Blood”, hit do último álbum “1989”, que contou com a participação especial de 17 artistas contracenando com a Taylor Swift em um cenário de batalha. Em entrevista à revista Rolling Stone dos Estados Unidos, Taylor declarou que o clipe é sobre uma cantora que tentou sabotar sua última turnê. Esse depoimento catalizou a confusão entre os Katycats e Swifties, que além de se alfinetarem na internet também se ameaçam pessoalmente. A repórter Liv Brandão do jornal O Globo fez a experiência de ir vestida com uma camisa da Taylor Swift no show da Katy Perry no Rock In Rio, para acompanhar a reação dos Katycats e comprovou que eles não levam essas brigas na esportiva. Durante sua caminhada pelas áreas do festival uma fã ameaçou a integridade física da jornalista, que já esperava isso depois de vários olhares de reprovação. Até que um Katycat a abordou e disse para se esconder, porque ir ao show da "KP" com uma camisa da Taylor é um absurdo e ainda disse que ela poderia ser agredida por alguém descontrolado.
O conflito entre as duas tomou o Twitter e ainda fez com que seus fãs e diversos artistas se manifestassem em defesa de cada uma delas, a ponto de causar uma guerra virtual e preencher todos os tabloides e revistas de música mundo afora. E quando todos menos esperavam, é lançado o clipe de “Bad Blood”, hit do último álbum “1989”, que contou com a participação especial de 17 artistas contracenando com a Taylor Swift em um cenário de batalha. Em entrevista à revista Rolling Stone dos Estados Unidos, Taylor declarou que o clipe é sobre uma cantora que tentou sabotar sua última turnê. Esse depoimento catalizou a confusão entre os Katycats e Swifties, que além de se alfinetarem na internet também se ameaçam pessoalmente. A repórter Liv Brandão do jornal O Globo fez a experiência de ir vestida com uma camisa da Taylor Swift no show da Katy Perry no Rock In Rio, para acompanhar a reação dos Katycats e comprovou que eles não levam essas brigas na esportiva. Durante sua caminhada pelas áreas do festival uma fã ameaçou a integridade física da jornalista, que já esperava isso depois de vários olhares de reprovação. Até que um Katycat a abordou e disse para se esconder, porque ir ao show da "KP" com uma camisa da Taylor é um absurdo e ainda disse que ela poderia ser agredida por alguém descontrolado.
Sobre a confusão das cantoras, desde o início o apaixonado por teen pop Thiago Santos já imaginava que isso tudo não passava de uma questão midiática, uma intenção de divulgação da parte da Taylor para o álbum, e não deu o braço a torcer por essa briga. Por conta disso, o jovem alerta que é preciso manter os olhos abertos para esses acontecimentos repentinos, já que essa polêmica batalha de “Taylor VS. Katy” ajudou o clipe de “Bad Blood” a bater o recorde temporário de vídeo mais assistido do YouTube e fez com que o single alcançasse o #1 na Billboard Hot 100. “Um escândalo como esses iria ajudar na repercussão, e foi o que aconteceu. Os fãs e o povo já estavam ansiosos para ouvir as músicas do álbum “1989” achando que 100% dele seriam indiretas para ex-namorados e amigas falsas”, declara.
Essas intrigas mexem com o comportamento do público, levando-o a participar delas e escolher um lado em uma batalha que não existe e que não merece atenção. Além disso, quando esse apelo pelas intrigas vem dos artistas, um ditado popular pode ser adaptado para explicar a situação: “fã de peixe, peixinho é”. Para o jornalista, crítico de música e apresentador dos canais Multishow e BIS, Guilherme Guedes, a questão é que o fã vê no ídolo uma série de símbolos, referências e atitudes que toma para si. “Admirar tanto um artista é, de certa forma, desejar ser, de alguma forma, mais parecido com tal artista. Outros artistas, ainda que semelhantes, representam outros valores, transmitem outras mensagens”, afirma.
Portanto não importa qual seja a cantora ou a banda. Sempre haverá indivíduos que, na maioria das vezes, não sabem sequer o que é uma clave de sol e que irão gerar intrigas e comentários negativos a fim de fazer com que todos admirem seus artistas prediletos e odeiem outros. No entanto, Guilherme Guedes acredita que é preciso entender que a sociedade é imersa em dados, em consumismo e em números vertiginosos que transformam uma paixão musical em uma competição sem sentido e, principalmente, que tudo isso é fruto da imaturidade dos fãs. Até porque a maioria dos “fandoms” são compostos por crianças, adolescentes e jovens adultos. |
Logo, entender os fãs é uma tarefa nada fácil. O jornalista Rodrigo Pinto arrisca a ideia de que são ungidos por uma música eterna feita só para eles, mas não entende como essas fanbases se mantém. “Música é uma coisa tão abrangente e íntima ao mesmo tempo, que não entendo fãs focados em um artista em especial, a ponto de fazerem parte de uma massa. Mas vejo isso acontecer, especialmente entre adolescentes”, diz. Em seu ponto de vista o ideal seria que indivíduos gostassem de Led Zeppelin ao Nelson Cavaquinho e de Nação Zumbi ao Philip Glass, sem esse conceito fechado de ser fã.
Ser eclético e ter maturidade: são nesses pontos que se encontra a paz no mundo da música. Atrás de uma cortina de respeito do qual só quem é maduro suficiente consegue ver e, consequentemente, entender que as figuras que estampam as capas de CDs e dos pôsteres nas paredes dos quartos são imperfeitas como todo mundo. Portanto é importante não deixar com que essas supostas intrigas entre artistas gerem conflitos entre os fãs e a repercussão que a mídia tanto quer. E desta forma, garantir que a música seja um instrumento de paz não apenas para os ouvidos, mas para alma, para os indivíduos e, acima de tudo, para a sociedade.
Ser eclético e ter maturidade: são nesses pontos que se encontra a paz no mundo da música. Atrás de uma cortina de respeito do qual só quem é maduro suficiente consegue ver e, consequentemente, entender que as figuras que estampam as capas de CDs e dos pôsteres nas paredes dos quartos são imperfeitas como todo mundo. Portanto é importante não deixar com que essas supostas intrigas entre artistas gerem conflitos entre os fãs e a repercussão que a mídia tanto quer. E desta forma, garantir que a música seja um instrumento de paz não apenas para os ouvidos, mas para alma, para os indivíduos e, acima de tudo, para a sociedade.
Assista aos depoimentos de fãs que buscam a paz no mundo da música:
|
|
|
|